segunda-feira, 01 de julho de 2024
Descarte de medicamentos: saiba como fazer
Como fazer o descarte de medicamentos corretamente? Na hora de limpar a caixa de remédio, é essa pergunta que todos devem fazer. Isso porque a toxicidade ocasionada pelo descarte incorreto de medicamentos pode trazer riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
Os consumidores têm um papel-chave nesse processo para evitar poluição química. O descarte de medicamentos deve ser feito em pontos de coleta específicos, para serem posteriormente encaminhados à destinação final ambientalmente correta. Entenda quais são os impactos ambientais e sociais de descartar medicamentos em lixo comum:
O que acontece com o descarte inadequado de medicamentos?
Muitas pessoas não sabem quais são os impactos do descarte incorreto de medicamentos e, por isso, acabam descartando esses produtos no lixo comum, pia, privada ou ralo. Mas essa ação pode gerar impactos nocivos às pessoas e ao meio ambiente. Dessa forma, além de conhecer quais são os riscos do descarte incorreto de medicamentos e quais as consequências para o meio ambiente do descarte incorreto dos medicamentos, é preciso alertar amigos e familiares sobre a importância da destinação correta destes produtos, a fim de evitar impacto ambiental.
Além do consumidor ser obrigado por lei a realizar a destinação correta de medicamentos pós-uso, esse ato é uma questão de bioética e de direitos animais. Afinal de contas, espécies de animais podem apresentar declínio em sua população após o contato com o composto químico de anticoncepcionais presentes em rios, por exemplo.
Além disso, podem surgir doenças difíceis de tratar em decorrência do contato de microrganismos com antibióticos no solo, que dão origem a superbactérias. Entenda melhor quais são os riscos associados ao descarte incorreto de medicamentos e espalhe essa mensagem para amigos, vizinhos e familiares.
Qual é o impacto do descarte de medicamentos no meio ambiente?
O impacto ambiental de medicamentos é um problema significativo para a humanidade e o planeta. A contaminação do solo por medicamentos é causada pelo descarte incorreto, mas também pelos resíduos da atividade agropecuária e pelas excretas humanas.
Cerca de 20% de todos os medicamentos utilizados no mundo são descartados de forma irregular. Entretanto, de acordo com o estudo A Review on Antibiotic Resistance, a atividade agropecuária é a principal responsável pela exposição humana às superbactérias.
Na agropecuária, os antibióticos são utilizados para tratar doenças clínicas em animais, prevenir e controlar eventos de doenças comuns e aumentar o crescimento animal. Esse uso dos medicamentos gera impactos no meio ambiente, pois cerca de 70% a 90% de antibióticos são eliminados por meio da urina e das fezes dos animais. Como consequência, contaminam a água e o solo e acabam gerando superbactérias.
Um estudo realizado na Tanzânia observou a existência de micróbios por toda parte no país. Nos animais domésticos, 50% das bactérias eram superbactérias. Ainda que eles não tenham tido contato com antibióticos, estão expostos às superbactérias no ambiente. Mas, além da contaminação ambiental, os antibióticos usados na agropecuária acabam contaminando o organismo humano por meio da ingestão de produtos de origem animal, como a carne.
Diante desse contexto, a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019, divulgou um relatório exigindo ações para evitar uma crise de resistência a medicamentos. Segundo o grupo responsável pela divulgação do relatório, se nenhuma ação for tomada, doenças resistentes a medicamentos podem causar 10 milhões de mortes a cada ano até 2050, sendo a principal causa de mortes no mundo.
Dados do relatório Fronteiras 2017 também alertaram sobre as superbactérias, estimando que o uso de antibióticos irá aumentar 23% neste século, sendo que só a medicação usada em rebanhos deve crescer 67% até 2030.
Impactos ambientais e sociais
O descarte de medicamentos e seus impactos socioambientais é um tema que precisa ser levado em conta no Brasil e no mundo. Os medicamentos descartados incorretamente podem contaminar o lençol freático. Dessa forma, uma vez diluídos em água, eles podem interferir no metabolismo e no comportamento de organismos aquáticos.
Outro problema se dá no âmbito da saúde pública. O armazenamento de medicamentos em casa aumenta o risco de intoxicação pelo uso indevido – cerca de 28% dos casos de intoxicações no Brasil são por medicamentos. As pessoas que manejam esses resíduos sem proteção, como catadores, também são suscetíveis a eventos adversos e intoxicações.
Revisando:
Pode descartar remédio no lixo?
Não. Como dito anteriormente, jogar medicamentos no lixo pode gerar contaminação ambiental de solos e corpos hídricos, gerando impactos nocivos à saúde das pessoas e animais.
Pode jogar remédio na privada ou na pia?
Não. Descartar medicamento na privada ou pia pode gerar contaminação ambiental de corpos hídricos e causar impactos nocivos à saúde de animais marinhos, gerando mudanças comportamentais e desequilíbrio ecológico. Aprender onde jogar remédio fora e onde jogar remédio vencido de modo correto pode ajudar contra esses impactos.
Formas de evitar contaminação ambiental de medicamentos
Cuide-se
O descarte inadequado, embora cause impactos em menor escala em comparação a outras atividade que utilizam fármacos, como a atividade agropecuária, também pode contaminar o meio ambiente e não deve ser ignorado.
Ainda assim, não basta fazer o descarte correto de medicamentos, é preciso reduzir o uso de medicamentos, pois, bem como acontece com os animais, os antibióticos também são liberados na urina e fezes dos humanos. Caso precise consumir algum medicamento, lembre-se: Use remédios de forma racional, sem exageros, sem automedicação e não interrompa o tratamento por conta própria.
Por isso, uma saída consciente é cuidar da saúde, prevenindo a necessidade do uso desses produtos, consequentemente reduzindo os efeitos adversos dos medicamentos, e reduzir o consumo de produtos de origem animal, como carne e leite, que demandam o uso de antibióticos em sua produção.
Nesse sentido, já existem estudos preliminares. Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP que analisou a composição genética da flora intestinal de pessoas com diferentes tipos de alimentação concluiu que há uma maior quantidade de bactérias com genes de resistência a antibióticos nos consumidores de carnes procedentes da agropecuária industrial e intensiva.
Vacine-se
As vacinas são uma das estratégias mais eficientes, seguras e econômicas para prevenir as doenças infecciosas. Elas impactam diretamente a resistência aos antibióticos, evitando a infecção. Se você previne uma infecção, não precisa tratá-la – o que ajuda a reduzir o uso geral de antibióticos.
Faça uso racional de medicamentos
Sempre procure orientação profissional para receber o medicamento apropriado, na dose correta por adequado período de tempo. Use remédios de forma racional, sem exageros, sem automedicação e não interrompa o tratamento por conta própria. Também exija do seu médico uma prescrição completa e coerente, sem desperdícios.
Além disso, evite consumir medicamentos fora de validade. Tomar remédio vencido pode oferecer mais riscos do que benefícios!
Medicamentos vencidos há 2 meses ou até menos não são indicados para consumo.
Evite desperdícios
Ao comprar medicamentos sem critérios ou em grandes quantidades para deixar armazenado em casa, é mais provável que parte passe do prazo de validade sem uso e tenha que ser descartada. Para além da ação individual, é preciso haver uma colaboração da regulamentação para permitir que o consumidor compre apenas o necessário para seu tratamento, evitando desperdícios.
Onde fazer o descarte de medicamentos vencidos?
Encaminhe a embalagem secundária para a reciclagem comum e guarde o blister ou vidro para o destino especial – os pontos de descarte de medicamentos, encontrados em drogarias populares ou Unidades Básicas de Saúde (UBS). Após esse processo, a embalagem de medicamentos é encaminhada pela empresa responsável à uma usina de tratamento.
Desse modo, a responsabilidade compartilhada passa do consumidor e a coleta de medicamentos vencidos e em desuso fica nas mãos dos fabricantes. A destinação final dos materiais descartados ficará a cargo dos fabricantes e importadores de medicamentos. Atenderá à destinação final ambientalmente correta a seguinte ordem de prioridade: incinerador (queima dos resíduos), coprocessador (aproveitamento dos resíduos como substituto parcial de matéria-prima e/ou de combustível) e aterro sanitário.
Entretanto, fica claro que o consumidor precisa saber como deve ser feito o descarte de medicamentos vencidos nas farmácias para fazer sua parte. Confira um resumo do passo a passo de como deve ser feito o descarte de medicamentos:
Descarte de medicamentos
- Guarde seus medicamentos em lugar seguro
Mantenha os medicamentos em lugar separado e seguro, longe da luz, umidade e do alcance das crianças. Uma caixa de remédios, do tipo “farmacinha” ou “armário de medicamentos”, ajuda na organização deles.
- Separe os medicamentos vencidos e em desuso
Periodicamente revise sua caixa de remédios, separando os medicamentos em desuso e aqueles com prazo de validade vencido, dos outros.
- Doe, se possível
No caso de existirem farmácias solidárias em sua região, uma boa prática é doar aqueles medicamentos em desuso, mas dentro do prazo, para estas instituições.
- Lixo comum, pia ou vaso sanitário, jamais!
Em hipótese alguma descarte seus medicamentos na pia, no vaso sanitário ou lixo comum. Há severos riscos de impactos ambientais e sociais nessa atitude.
- Pontos de descarte são o destino
Pesquise por “pontos de descarte de medicamentos” próximos de sua localização no buscador do eCycle (através do botão abaixo). Há muitas opções de farmácias e unidades de saúde que recebem estes produtos com a garantia de um descarte ambientalmente correto.
- Vigilância sanitária também é solução
Caso não encontre pontos de descarte de medicamentos próximos à sua localidade, procure a vigilância sanitária. Possivelmente poderão lhe auxiliar na solução do problema.
O que diz a Lei sobre o descarte de medicamentos?
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece como obrigatoriedade o correto descarte de medicamentos no Brasil. O decreto federal n.º 10.388, que institui o sistema de logística reversa de medicamentos domiciliares de uso humano – vencidos ou em desuso –, bem como da embalagem de remédio após o descarte, entrou em vigor em dezembro de 2020.
O decreto foi publicado pelo Diário Oficial da União em 5 de junho do mesmo ano, depois de anos de debates entre especialistas da área ambiental, autoridades públicas e indústria farmacêutica.
Ele regulamenta o inciso I do artigo 33 da Política Nacional de Recursos Sólidos (PNRS), Lei n.º 12.301, criada em 2010, que normatiza o gerenciamento de recursos sólidos no Brasil por setores públicos e privados, com o objetivo de organizar melhor a maneira como o país lida com o crescente problema do lixo. O Ministério da Saúde é responsável por fiscalizar esse processo.
Por sua vez, o decreto da PNRS foi derivado da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), que em sua Resolução n.º 306 de 7 de dezembro de 2004, regulamenta o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal devem elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) que garanta o manejo e a destinação ambientalmente correta desses resíduos.
Onde entregar medicamentos dentro do prazo?
Para evitar desperdícios, é importante saber onde entregar medicamentos dentro do prazo. Em vez de fazer o descarte de remédios ainda válidos, você pode pesquisar onde doar remédios. A doação é permitida no Brasil e incentivada pelo Projeto de Lei 4091 de 2019, que propõe que sejam instituídas diretrizes para programas, projetos e ações, sob responsabilidade do poder público, que envolvam a doação de medicamentos à população.
Entretanto, para que a doação ocorra de modo seguro, é importante não separar as embalagens secundárias das primárias e deixá-las intactas para encaminhamento aos bancos de doação de medicamentos.
Projeto de descarte de medicamentos
O programa de descarte consciente é fundamental e concebido por empresas de coleta de medicamentos vencidos, que cuidam do planejamento e execução para que, consoante as determinações legais, os produtos sejam coletados nos varejistas, se concentrem preliminarmente em um local secundário para depois se consolidarem para o encaminhamento à destinação.
O que as empresas fazem com medicamentos vencidos? A partir do descarte feito pelos consumidores, transportadoras farão a coleta de medicamentos e darão o destino correto para os produtos — que é feito pela incineração, coprocessamento ou disposição final em aterros de classe I, para produtos perigosos.
Depois que o consumidor informar-se sobre como descartar remédios e fazer sua parte destinando corretamente seus medicamentos em desuso, as farmácias e drogarias devem registrar e informar no manifesto de transporte de resíduos (MTR), emitido pelo Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir), a massa (em Kg) dos medicamentos recebidos.
Então, uma empresa de coleta de medicamentos vencidos levará os medicamentos para a unidade de tratamento e destinação final. Os medicamentos recebidos na unidade de tratamento serão incinerados, coprocessados e encaminhados ao aterro sanitário de classe I, para produtos perigosos.
E depois do descarte de medicamentos correto?
Após tomar os devidos cuidados com os medicamentos e praticar o descarte consciente de medicamentos é importante lembrar que a incineração também apresenta riscos para o meio ambiente e para a saúde. Os gases emitidos pela queima e as cinzas produzidas nesse processo podem conter substâncias tóxicas. Isso exige um extremo controle e equipamentos modernos com alta eficiência de filtração e lavagem de gases para diminuir os riscos. Por enquanto, é a melhor opção para destinação final dos resíduos de serviço de saúde (RSS) – método também usado amplamente no exterior.
[ via https://www.ecycle.com.br/ ]