terça-feira, 03 de maio de 2022

Banco Mundial prevê pior choque de preço em 50 anos

Maior choque de commodities deve acontecer desde a década de 70 devido à guerra da Ucrânia.

O Banco Mundial avalia que o conflito na Ucrânia vai contribuir para o aumento de preços de itens que vão do trigo ao algodão, passando também pelo gás natural.

Na previsão divulgada, o economista-sênior do Banco Mundial, Peter Nagle, comenta: “estamos particularmente preocupados com as famílias mais pobres, já que uma parcela maior da renda delas é gasta em alimentos e energia. Elas são particularmente vulneráveis a esse aumento de preços”. 

Ainda segundo o Banco, os preços da energia devem subir mais de 50%, impactando contas de residência como as de empresas.

O gás natural na Europa é o que terá maior reajuste, passando mais que o dobro. Esses mesmos valores devem ter queda nos anos de 2023 e 2024, mas ainda assim permanecerão 15% mais altos do que no ano passado.

No intervalo de quase dois anos, entre abril de 2020 e março deste ano, houve um aumento que representa “o maior aumento de 23 meses nos preços de energia desde a subida do preço do petróleo em 1973″, aponta a instituição financeira.

Na época, um corte no fornecimento de petróleo por parte de países do Oriente Médio, em vingança ao apoio norte-americado a Israel, fez com que os preços do barril de petróleo disparassem pelo mundo todo.

Do mesmo modo, a expectativa é de que os preços do petróleo permaneçam altos também nos próximos dois anos. Assim, o barril deve ficar U$ 100 em média neste ano, elevando a inflação ao redor do mundo.

Com as sanções de potências ocidentais, empresas estão deixando a Rússia e cortando laços com a economia russa.

Vale lembrar que a Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, com 11% do total, mas o relatório do Banco Mundial alega que “perturbações resultantes da guerra devem ter um efeito negativo duradouro”.

Batendo recordes

A visão da instituição financeira sobre commodities também inclui a previsão de uma forte alta no preço dos alimentos. A tabela de preços da ONU está em seu nível mais alto da série histórica iniciada há 60 anos.

Dessa forma, o trigo deve subir 42,7% e atingir novos recordes, assim como o preço da cevada que atingirá 33,3%, soja 20% e frango 41,8%. Todo esse aumento é reflexo da queda extrema das exportações da Ucrânia e Rússia.

Consequências no Brasil

De acordo com o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, “faz sentido pensar em pressão inédita de preços”. No caso do Brasil, ele diz que o impacto é claramente inflacionário por causa dos combustíveis e derivados do trigo.

O especialista também analisa que “essa inflação que está sendo gerada pode levar a uma desaceleração intensa da economia mundial ano que vem, e isso pode levar a descumprir em parte a pressão de preços que vemos agora”. 

Seguindo nessa mesma linha de análise do cenário econômico, a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, lembra que a economia mundial já estava em um ciclo de alta de commodities antes da guerra em virtude dos efeitos da Covid-19.

“Ggrande parte dos analistas esperava que o preço das commodities ao menos perdesse força, mas o surgimento da guerra entre Rússia e Ucrânia mudou as coisas”, explica.

Ela afirma que, isso não pode ser entendido apenas como um problema de preços de alimentos, mas também de insumos industriais, já que praticamente toda a cadeia de produção é afetada.

Segundo um relatório do Bank of America, o trigo é um dos produtos agrícolas mais difíceis de substituir.

A mesma pesquisa aponta que más condições climáticas na América do Norte e na China podem impactar na redução das exportações ucranianas.

O Bank of America avalia que as exportações ucranianas de grãos e oleaginosas caíram mais de 80% por causa do conflito, o que ao longo do ano isso corresponde a cerca de 10 dias de abastecimento mundial de alimentos.

Para o presidente-executivo da Archer Daniels Midland, Juan Luciano, os mercados globais de grãos sentirão efeitos nos próximos anos de uma franca colheita de canola no Canadá e de resultados abaixo do esperado na América do Sul, além da guerra na Ucrânia.

Nagle, do Banco Mundial, expôs que outros países podem ajudar a resolver a carência de oferta causada pelo confronto na Ucrânia a médio prazo.

Para as commodities de forma geral, o relatório da instituição financeira prevê o pico dos preços neste ano, mas permanecendo em um patamar muito mais elevado do que o previsto antes.

 Com informações da BBC News Brasil

FONTE: https://www.contabeis.com.br/noticias/51380/pior-choque-de-preco-em-50-anos-e-o-que-preve-banco-mundial/

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