terça-feira, 14 de março de 2023

Reunião do Congresso chinês delineia o futuro das relações internacionais



Neste artigo, o especialista comenta sobre o futuro das relações internacionais da China, discutido no Congresso Nacional do Povo.

No último domingo (5), a China reuniu o Congresso Nacional do Povo para determinar as diretrizes econômicas do país, principalmente as de curto prazo. Esse Congresso, que tem a maior hierarquia legislativa da nação chinesa, é composto por 2,98 mil membros que se reúnem uma vez por ano, em um encontro que pode durar até 15 dias.

Apesar de se tratar de um órgão apenas consultivo, a reunião é importante porque, além de discutir temas estratégicos, define os parâmetros econômicos para o próximo ano, destacando metas e previsões do governo. Assim, na ocasião, debate-se o padrão de crescimento e as atividades de política econômica a serem adotadas. O órgão também examina e aprova o plano nacional de desenvolvimentos econômico e social, ou seja, analisa o plano quinquenal e faz as modificações de curto prazo necessárias para o seu bom andamento.

O ano de 2022 apontou um crescimento baixo para os padrões chineses, com uma taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3%, uma das menores desde a década de 1970. A despeito da diminuição do desenvolvimento potencial e das ações, no mínimo, polêmicas do governo, os grandes causadores deste resultado foram, sem dúvida, os bloqueios levados a cabo para debelar o número de casos de infecção pela variante ômicron da Covid-19.

Neste contexto, uma análise mais minuciosa dos comunicados do governo da China é ainda mais relevante para entender a visão do país quanto à economia e a sua forma de agir para atingir os objetivos. A primeira mudança significativa será a substituição do primeiro-ministro, número 2 na hierarquia, Li Keqiang – que completará 69 anos no ano que vem (regra estabelecida pelo partido) –, por Li Qiang, um homem de negócios e conhecido pela veia empresarial. 

A segunda mudança traz um dado interessante: o conselho fixou a meta de PIB para “algo próximo a 5%”. O número chama a atenção por ser conservador, já que se espera uma recuperação rápida causada pela abertura pós-Covid-19. É bem possível que o governo esteja mandando dois recados: “Manteremos as reformas mais ‘socialistas’ e não apoiaremos uma política monetária mais expansionista”. Desta forma, diante de uma meta fraca, é possível manipular o sistema econômico em função da common prosperity sem maiores limitações.

O terceiro ponto diz respeito à meta de déficit para o ano, fixada em 3% do PIB, número que possibilita aumento de 5,6% nos gastos do governo, para um total de US$ 3,9 trilhões e acréscimo de 7,2% nos custos com defesa, chegando a US$ 225 bilhões. Para os governos locais, profundamente atingidos pela crise imobiliária – uma vez que a venda de terras é responsável por grandes fatias da receita –, sobrará US$ 1,5 trilhão, alta de 3,6% sobre 2022. Já para o consumidor, a meta de inflação é de 3%, graças à perspectiva de retração mundial e ao baixo “inchaço” corrente da China, além da previsão da criação de 12 milhões de empregos urbanos. 

Há, ainda, contribuições pertinentes para o entendimento do novo gigante asiático: dois tópicos foram destacados como de extrema urgência no país. Um deles é a reunificação de Taiwan, assunto que deve se manter em voga nos próximos anos e causar ruído no cenário mundial. O outro é a autossuficiência em tecnologia, principalmente a concernente aos semicondutores, uma vez que a China ainda é muito dependente do Ocidente para qualquer evolução nesta seara, inclusive a militar. A propósito, já abordamos este tema em artigos anteriores aqui no Portal Contábeis

Em suma, as transformações culturais e econômicas rumo a uma economia mais fechada e socialista, um maior distanciamento do Ocidente e um país mais independente militar e economicamente é o que se pode esperar da China a partir de agora. Tempos turbulentos.

fonte: https://www.contabeis.com.br/artigos/8136/china-futuro-das-relacoes-internacionais/



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