sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023
Inflação gera inquietação no Brasil e nos Estados Unidos
Neste artigo, o especialista comenta sobre a inflação no Brasil e nos Estados Unidos, tendo em vista as taxas básicas de juros divulgadas pelo Copom, BCB e Fed.
E a luta contra a inflação no mundo continua. Na última semana, tanto o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil (BCB), como o Federal Reserve (FED), dos Estados Unidos, divulgaram a taxa de juros básica de ambos os países.
Embora o Copom tenha mantido a taxa em 13,75% ao ano (a.a.), e o FED tenha aumentado em 0,25 ponto porcentual (p.p.), para a faixa entre 4,5% e 4,75%, tanto um como o outro apontaram para a mesma direção: o trabalho está longe de ser finalizado. Além disso, a inflação se apresenta bem distante das metas a serem seguidas.
No Brasil, o comitê apontou que o aumento das taxas de economias desenvolvidas tornam ainda mais sensível o mercado em relação à política fiscal. Embora o mundo esteja desacelerando de uma forma tranquila, o incremento dos juros nos países centrais tende a atrair os dólares dos emergentes.
Assim, caso o conjunto de medidas do governo seja irresponsável, aumentando os riscos, este fluxo será potencializado, gerando desvalorização e mais inflação. Isso pressiona o BCB a aumentar ainda mais os juros. No caso inverso, uma política fiscal séria traz estabilidade e reverte as saídas de câmbio causadas pela desconfiança.
O Copom também destacou que as previsões inflacionárias para um futuro distante estão se deteriorando, muito em razão das declarações heterodoxas do governo. Este processo, chamado “desancoragem”, é perigoso, porque encarece o custo de longo prazo das políticas de contração monetária para debelar a inflação.
A piora das expectativas, principalmente de longo prazo, faz subir o preço dos títulos ligados a juros e os juros atuais pagos por empresas e consumidores. O comitê ameaçou, inclusive, subir esses juros caso as previsões se desloquem demais da meta, atitude correta para manter a estabilidade da moeda.
No Hemisfério Norte, o FED ponderou que os indicadores recentes realçam uma desaceleração saudável da economia, embora o mercado de trabalho ainda seja uma fonte de apreensão. O comunicado, liberado em 31 de janeiro, apontou tom ameno ao divulgar mais uma alta de 0,25 p.p., após manutenção em 5%.
Contudo, o que o Banco Central norte-americano não esperava é que o relatório de emprego, que saiu na última sexta-feira (3), apontasse criação líquida de 500 mil novos empregos, contra um prognóstico próximo a 100 mil. O dado “azedou” os mercados, que voltaram a subir juros de longo prazo e derrubar bolsas mundo afora. O mercado laboral estadunidense continua sinalizando ao FED que mais 0,25% não será suficiente. Cabe checar, agora, a reação da autoridade monetária a este novo fato.
Em suma, tanto Brasil como Estados Unidos enfrentam realidades próximas. Embora a luta contra a inflação já tenha começado (a brasileira, inclusive, bem antes), está longe de terminar. Por isso, qualquer declaração que demande baixa de juros será puro populismo e só vai complicar (e muito) o cenário futuro.
Nestas horas, é essencial agir com consciência e medir muito bem o que se comunica, principalmente os poderosos e formadores de opinião.